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TREINE O SEU PALADAR
mesmo depois de adulto
Resumo da matéria
🌟 É possível treinar o paladar para apreciar alimentos mais saudáveis
através da adaptação constante das papilas gustativas.
🌟 Fatores genéticos, emocionais e culturais influenciam o gosto, mas
a repetição pode tornar sabores inicialmente desagradáveis em prazerosos.
🌟 Estratégias incluem reduzir gradualmente açúcar e sal, usar temperos
naturais e praticar atenção plena para valorizar sabores sutis.
ESTRATÉGIAS PARA TREINAR O PALADAR
Reduzir açúcar, sal ou gordura não é tarefa simples, mas pequenas
mudanças graduais podem trazer grandes resultados. "Uma das estratégias
mais básicas é simplesmente diminuir aos poucos. Comece retirando
cerca de 50% do açúcar de adição, por exemplo, e vá reduzindo
gradualmente", orienta Thaís Barca.
Além da redução progressiva, outros recursos podem ajudar:
🌟Apostar em temperos naturais: ervas, especiarias, alho, cebola, limão, que
realçam o sabor sem exigir tanto sal;
🌟Variar o modo de preparo: alimentos ganham sabores diferentes dependendo
da técnica culinária;
🌟Criar rituais prazerosos: pode transformar a relação com a comida.
🌟Trocar sobremesas por frutas bem preparadas ou adaptar receitas familiares
para versões mais leves permite manter tradições sem abrir mão da saúde;
🌟Praticar atenção plena ao comer: ajuda a valorizar cores, aromas e apresentação.
"A gente come com os olhos primeiro... essa salivação inicial já ajuda o cérebro
a perceber o alimento como mais saboroso", destaca Barca;
🌟Cuidar melhor do olfato: "Quando reduzimos aditivos (sal, açúcar, gordura),
o olfato passa a ter papel ainda mais central, ajudando a perceber aromas sutis
de frutas, verduras, especiarias e preparações naturais. É por isso que resfriados
ou obstruções nasais fazem os alimentos parecerem 'sem gosto' e merecem
ser tratados", reforça Matsuyama.
INFLUÊNCIA DA GENÉTICA E DA ADAPTAÇÃO
As papilas gustativas, localizadas na língua, abrigam células sensoriais
que permitem identificar os cinco sabores básicos: doce, salgado, azedo,
amargo e umami. Este último pode ser descrito como "saboroso" ou
"delicioso" e está presente em alimentos ricos em aminoácidos, como
carnes, queijos curados, tomates e cogumelos.
"Elas (as papilas) se renovam a cada 10 a 14 dias, permitindo que o paladar
se ajuste ao longo da vida", afirma o otorrinolaringologista Cícero Matsuyama,
do Hospital Cema, em São Paulo. Em outras palavras, isso significa que
há sempre espaço para adaptação —mesmo que em ritmos diferentes para
cada pessoa.
O gosto por determinados sabores não se resume a uma simples escolha
pessoal, mas já nasce, em parte, conosco. A nutricionista funcional e
esportiva Thaís Barca, da Clínica CliNutri (SP), explica que existe uma
influência genética no paladar.
"Cada pessoa já vem ao mundo com maior ou menor predisposição
para certas percepções, como sentir o amargor de forma mais intensa."
Apesar disso, o paladar é altamente moldável. A repetição desempenha
papel central nesse processo: o que inicialmente parece desagradável
pode se tornar prazeroso. O café é um exemplo clássico.
"Para muitos, o primeiro gole é amargo demais, mas, ao insistir no consumo,
o cérebro se acostuma ao sabor. Com a exposição contínua, chega
até a soar estranho quando se adiciona açúcar", diz a nutricionista.
Esse fenômeno é chamado de sensibilização do paladar - a adaptação
progressiva a gostos ou texturas antes rejeitados.
PAPEL DO CÉREBRO E DA NEUROPLASTICIDADE
Treinar o paladar, porém, vai muito além da boca: envolve também o cérebro.
O neurologista Daniel Abreu, do Hospital São Rafael, da Rede D'Or, em
Salvador, comenta: "Quando reduzimos o consumo de alimentos muito
açucarados, gordurosos ou salgados, o cérebro passa por um processo
de recalibração, e os sabores mais sutis começam a ser percebidos com
maior intensidade e prazer".
Esse ajuste está ligado à neuroplasticidade — a capacidade de adaptação
do cérebro. "Com o tempo, ele pode formar novas conexões que associam
prazer a alimentos mais saudáveis, enquanto as antigas, ligadas a
ultraprocessados, perdem força", informa Abreu. O médico lembra ainda
que fatores como genética, microbiota intestinal, histórico com a comida
e até a qualidade do sono influenciam esse processo.
"O ato de comer também está totalmente ligado a fatores emocionais e
culturais, além do hábito", destaca Thaís Barca. Desde cedo, aprendemos
a associar certos alimentos a prazer/recompensa e conforto - como o
sorvete após tomar uma vacina ou a macarronada da avó aos domingos.
Essas conexões, embora dificultem a substituição de alguns alimentos,
também mostram que é possível ressignificar o prazer…
NEM SEMPRE A MUDANÇA É FACIL
Segundo Matsuyama, algumas condições podem dificultar, retardar ou adiar
a mudança, como envelhecimento, alterações hormonais (caso da gravidez),
doenças como diabetes, insuficiência renal ou câncer de cabeça e pescoço
em tratamento com químio ou radioterapia.
O uso de medicamentos (como antibióticos, antidepressivos e anti-hipertensivos)
também pode interferir, assim como hábitos nocivos, como fumar ou exagerar
no álcool.
Outro desafio está na natureza dos ultraprocessados, projetados para
hiperestimular o sistema de recompensa do cérebro, liberando grandes doses
de dopamina, o neurotransmissor do prazer e da motivação.
"Essa resposta exagerada é semelhante, em alguns aspectos, à observada
em vícios comportamentais", observa Abreu. Daí a importância da constância:
quanto mais o cérebro aprende a associar prazer a alimentos naturais, mais
fácil se torna manter hábitos saudáveis.
Outro ponto fundamental é a repetição.
"Em cerca de três a seis semanas de exposição contínua a um sabor, já é possível
notar mudanças significativas na percepção do gosto", informa Barca. Em média,
em apenas um mês, alimentos que antes pareciam sem graça passam a ser
percebidos como mais saborosos.
No fim das contas, treinar o paladar é menos sobre abrir mão do prazer e mais
sobre redescobri-lo em novas formas. O processo exige paciência, constância
e curiosidade, mas mostra que o cérebro e as papilas gustativas têm grande
capacidade de adaptação. Com pequenas mudanças, é possível não apenas
acostumar-se a sabores mais naturais, como também aprender a apreciá-los de
verdade - transformando a alimentação saudável em uma escolha prazerosa
e duradoura.
fonte: VIVABEMuol
imagem: paladarrnatural